Ajustamento Criativo na Gestalt-Terapia

Ajustamento Criativo na Gestalt-Terapia: como nos adaptamos para sobreviver e seguir vivendo

Ajustamento criativo é um dos conceitos mais importantes da Gestalt-terapia.
Ele se refere às formas que encontramos para nos adaptar ao ambiente, lidar com situações difíceis
e conseguir continuar existindo em contextos que nem sempre acolhem quem somos.

Muitas dessas formas de se ajustar foram, em algum momento, soluções criativas para sobreviver emocionalmente.
Com o tempo, porém, algumas delas podem se tornar rígidas e dolorosas.

Nesta página, você encontra:

  • o que é ajustamento criativo;
  • como ele se forma ao longo da vida;
  • quando deixa de ser proteção e vira prisão;
  • exemplos práticos no cotidiano;
  • como a Gestalt-terapia trabalha com esses padrões.

O que é ajustamento criativo?

Ajustamento criativo é a forma como o organismo (a pessoa) e o ambiente se organizam em resposta a uma situação.
Não é algo fixo, mas um movimento de adaptação.

Em contextos de pouco apoio, a pessoa encontra modos de:

  • se proteger da dor;
  • evitar conflitos que pareceriam insuportáveis;
  • manter vínculos importantes, ainda que às custas de si mesma;
  • garantir alguma sensação de pertencimento;
  • preservar algo de sua integridade psíquica.

Esses modos de se ajustar são criativos porque surgem como respostas possíveis
diante das condições reais de cada história.


Exemplos de ajustamentos criativos ao longo da vida

Alguns exemplos podem ajudar a visualizar esse conceito:

  • Uma criança que aprende a ser “boazinha” o tempo todo para evitar brigas em casa.
    Na vida adulta, pode ter dificuldade enorme de colocar limites.
  • Alguém que cresceu ouvindo que “sentir é fraqueza” e aprendeu a se anestesiar emocionalmente.
    Isso pode virar dificuldade de se conectar com o que sente.
  • Uma pessoa que, diante de muitas perdas, passou a viver sempre em alerta,
    antecipando perigos. Isso pode se transformar em ansiedade intensa.
  • Alguém que, por ter sido muito criticado, aprendeu a se criticar primeiro,
    como forma de se preparar para o olhar do outro.

Em todos esses casos, houve criatividade: a pessoa encontrou um jeito de seguir em frente.
O problema é quando esse jeito fica rígido e passa a causar sofrimento.


Quando o que protegeu começa a aprisionar

Um ajustamento criativo deixa de ser apenas recurso e passa a ser problema quando:

  • se torna a única forma de lidar com situações diferentes;
  • se repete mesmo em contextos em que já não é necessário;
  • gera sofrimento, culpa, exaustão ou perda de vitalidade;
  • impede contato genuíno consigo e com o outro;
  • bloqueia desejos, projetos e movimentos importantes da vida.

O que um dia foi proteção passa a lembrar uma roupa que já não serve mais,
mas que a pessoa continua usando porque não teve oportunidade de experimentar outras formas de se vestir no mundo.


Ajustamento criativo, campo e contexto

Na Gestalt-terapia, nada é entendido fora do campo — a relação entre pessoa e ambiente.

Isso significa que:

  • não se trata de “culpar” a pessoa pelos seus modos de se ajustar;
  • é importante compreender em que contextos esses ajustamentos nasceram;
  • muitas vezes, tiveram uma função clara de proteção e pertencimento;
  • não faz sentido simplesmente dizer “abandone isso”, como se fosse fácil.

A terapia busca olhar tanto para quem você é hoje quanto para os ambientes em que aprendeu a ser assim.


Relação com mecanismos como introjeção, projeção e retroflexão

Os ajustamentos criativos aparecem muitas vezes através de mecanismos como:

  • Introjeção — engolir regras e expectativas sem digerir;
  • Projeção — colocar no outro aquilo que é difícil reconhecer em si;
  • Retroflexão — voltar contra si a energia que não pode ser dirigida ao ambiente;
  • Confluência — se fundir ao outro, perdendo de vista a própria diferença.

Cada um deles é, de certo modo, um jeito de se ajustar criativamente a contextos de pouco apoio.
Você pode ler mais sobre esses mecanismos em:
Confluência, Introjeção, Projeção e Retroflexão.


Como a Gestalt-terapia trabalha com o ajustamento criativo

Na clínica gestáltica, não se trata de “quebrar defesas” ou “eliminar padrões” de forma abrupta.
Em vez disso, o trabalho é feito em algumas direções:

  • reconhecer a função protetiva que esses ajustamentos tiveram;
  • honrar a criatividade envolvida em cada forma de sobrevivência;
  • ampliar awareness sobre como esses padrões se manifestam hoje;
  • explorar, com apoio, outras formas possíveis de contato e escolha;
  • permitir que novos ajustamentos, mais vivos e flexíveis, possam surgir.

A ideia não é “apagar quem você foi”, mas acolher sua história
e abrir espaço para que outros modos de existir também se tornem possíveis.


Ajustamento criativo e processos de escolha

Muitos impasses de escolha estão ligados a ajustamentos criativos:

  • sempre escolher o que é “mais seguro”, mesmo que traga pouca vida;
  • repetir relações que lembram vínculos antigos, mesmo que dolorosos;
  • evitar decisões por medo de desapontar alguém;
  • seguir roteiros de vida que nunca foram realmente escolhidos.

Quando awareness aumenta e os ajustamentos ficam mais nítidos,
a pessoa pode começar a se perguntar, de forma honesta:
“isso ainda faz sentido para mim?”


Se você sente que está preso(a) em velhos ajustamentos

Se você se percebe repetindo padrões que já não combinam com quem você é hoje,
mas ainda não sabe bem como fazer diferente, a terapia pode ser um espaço importante de cuidado.

No site abaixo você encontra mais informações sobre o atendimento psicológico online:


Acessar psicologoonline.art.br