Projeção: quando você coloca no outro aquilo que não consegue ver em si
A projeção é um jeito de lidar com sentimentos difíceis atribuindo-os a alguém fora de você.
Nem sempre é “delírio”; muitas vezes é um pedido de cuidado consigo.
O que é projeção na Gestalt-Terapia?
Na Gestalt-Terapia, projeção acontece quando você atribui ao outro sentimentos,
intenções ou características que não reconhece em si. Em vez de assumir:
“estou com raiva”, pode parecer que “o outro está contra mim o tempo todo”.
Alguns exemplos comuns:
- Ver rejeição em qualquer silêncio;
- Interpretar toda divergência como ataque pessoal;
- Supor que as pessoas “sempre” vão te abandonar;
- Acreditar que o outro é “frio”, quando você também tem dificuldade de expressar afeto.
Como a projeção aparece no cotidiano
A projeção pode ser uma forma de proteção: é mais fácil enxergar fora o que,
por algum motivo, é difícil ou doloroso reconhecer dentro.
Ela pode se manifestar em situações como:
- Relacionamentos em que você se sente sempre perseguido(a) ou julgado(a);
- Ciúmes intensos, mesmo sem sinais concretos de traição ou abandono;
- Conflitos frequentes por “coisas pequenas”, que ganham um peso desproporcional;
- Expectativa de que o outro adivinhe o que você sente e precisa, sem expressar diretamente.
sentimentos importantes ainda não podem ser assumidos no “eu”.
Projeção e ciclo de contato
No ciclo de contato, a projeção interrompe a possibilidade de awareness:
a experiência é vivida como algo “externo”, dificultando perceber a própria participação
nas relações.
Isso pode levar a padrões repetitivos, como:
- Escolher sempre parceiros(as) parecidos e repetir roteiros de sofrimento;
- Interpretar o mundo como um lugar hostil, onde é preciso estar na defensiva;
- Ter dificuldade de assumir responsabilidade pelos próprios limites e escolhas.
Como a terapia pode ajudar com a projeção
Na Gestalt, o convite não é “culpar você”, mas trazer curiosidade:
por que essa leitura da realidade se tornou necessária? O que ela protege?
Na prática, o processo terapêutico pode incluir:
- Explorar como você percebe as situações e o que sente no corpo em cada encontro;
- Experimentar outras maneiras de checar a realidade (“eu posso perguntar ao invés de supor?”);
- Reconhecer sentimentos próprios (medo, raiva, tristeza, vergonha) que estavam “colados” no outro;
- Diferenciar o que é memória de experiências antigas e o que é fato no momento presente.
Ao integrar esses conteúdos, você vai ganhando mais liberdade para se relacionar com
menos defensividade e mais presença.
Se você percebe que vive em alerta, com desconfiança constante nas relações,
a psicoterapia pode ser um espaço protegido para revisar essas experiências
com cuidado e sem julgamentos.